- Talvez você tenha razão.
- Sobre o quê?
- Sobre eu nunca ter amado ninguém.
- Tenho razão, mas não tenho a sua sorte.
- Sorte – ela suspirou indignada – Sorte por não amar?
- Sim, sorte. Não sabe o quanto é ruim.
- Ruim mesmo é não sentir.
- Ruim mesmo é ser o que sente e não é correspondido.
- Como sabe que não é correspondido?
- É tão óbvio, só você não vê.
- Eu não sinto, eu não vejo. O que quer dizer?
- Quero dizer o que você já devia saber desde o dia em que nos conhecemos.
- Nós tínhamos doze anos.
- Quatro anos se passaram. Ou você é cega ou gosta de me fazer sofrer.
- Não gosto de te ver sofrer. Eu só não entendo.
- Eu te amo.
- Eu também – Ela disse meio sem graça, mais para ela do que para ele.
- Não como eu gostaria.
- Beije-me.
- O quê?
- Beije-me e faça-me sentir.
Ele hesitou até não poder mais conter seus anseios, afinal ele esperou quatro anos por isso. Pousou uma mão na face macia dela, a outra serviu para puxá-la mais para perto, até que seus lábios se encontraram e dançaram. Como uma valsa, numa sintonia perfeita, como se uma orquestra estivesse dentro de cada um daqueles corações que batiam em uníssono.
Ela se afastou por medo ou dúvida, talvez.
- O que foi? – Ele perguntou estagnado e paralisado pelo medo.
- Eu não sei – Ela disse mergulhada em pensamentos com os olhos totalmente fora de foco. Levou suas mãos aos lábios e pôde sentir algo diferente. Tomou fôlego e deixou escapar um suspiro – Acho que minha sorte se foi.