quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

As Duas Palavras Com A

- Talvez você tenha razão.

- Sobre o quê?

- Sobre eu nunca ter amado ninguém.

- Tenho razão, mas não tenho a sua sorte.

- Sorte – ela suspirou indignada – Sorte por não amar?

- Sim, sorte. Não sabe o quanto é ruim.

- Ruim mesmo é não sentir.

- Ruim mesmo é ser o que sente e não é correspondido.

- Como sabe que não é correspondido?

- É tão óbvio, só você não vê.

- Eu não sinto, eu não vejo. O que quer dizer?

- Quero dizer o que você já devia saber desde o dia em que nos conhecemos.

- Nós tínhamos doze anos.

- Quatro anos se passaram. Ou você é cega ou gosta de me fazer sofrer.

- Não gosto de te ver sofrer. Eu só não entendo.

- Eu te amo.

- Eu também – Ela disse meio sem graça, mais para ela do que para ele.

- Não como eu gostaria.

- Beije-me.

- O quê?

- Beije-me e faça-me sentir.

Ele hesitou até não poder mais conter seus anseios, afinal ele esperou quatro anos por isso. Pousou uma mão na face macia dela, a outra serviu para puxá-la mais para perto, até que seus lábios se encontraram e dançaram. Como uma valsa, numa sintonia perfeita, como se uma orquestra estivesse dentro de cada um daqueles corações que batiam em uníssono.

Ela se afastou por medo ou dúvida, talvez.

- O que foi? – Ele perguntou estagnado e paralisado pelo medo.

- Eu não sei – Ela disse mergulhada em pensamentos com os olhos totalmente fora de foco. Levou suas mãos aos lábios e pôde sentir algo diferente. Tomou fôlego e deixou escapar um suspiro – Acho que minha sorte se foi.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sophia X

Não estava frio, muito menos chovendo, mas havia névoa, muita névoa embaçando os pensamentos de Vicente, memórias antigas e recentes se misturando numa cabeça a qual nem ele próprio sabia dizer se sobrara um mísero pingo de sanidade dentro.

Ele correu,

correu,

correu no meio daquela tempestade.

Seu sol fora roubado, ah, Sophia...

Estava com medo, fugindo de alguém, não sabia se dos amigos – ex amigos, talvez -, ou dele mesmo. E isso tudo acontecendo no meio de um furacão de emoções, virou a esquina, começou a cruzar uma rua e não teve tempo de chegar do outro lado.

Um carro o atingiu, ele desmaiou. Talvez fosse um alívio, inconsciência não é nada perto daquele desespero de antes. Seu coração silenciou quase que instantaneamente.

Sophia e Esteban vinham logo atrás, ela não chegou a ver o momento exato do acidente, fechara os olhos. Correram juntos. Tentaram reanimá-lo... Em vão.

Ainda estavam em estado de choque, quando repararam que ele tinha algo em mãos, abriram delicadamente aqueles dedos frios e sem vida, Sophia caiu aos prantos sobre o ombro de Esteban, era demais para ela. Havia um relicário com a foto da única pessoa que ele conseguira amar verdadeiramente em vida, sua melhor amiga e seu único amor, Sophia.

A chuva veio como que para lavar aquela alma nobre e perturbada, se misturou às lágrimas e aos soluços da menina que usava vestido florido na ocasião.

domingo, 24 de outubro de 2010

Procura-se um sorriso

Eu estava andando com uns amigos em Nova Iorque e, eu estava tão feliz, rindo à toa.
Eu, meus amigos e a melhor viagem de nossas vidas.
Estávamos caminhando numa pequena rua próxima à Broadway, cheia de barzinhos charmosos e eu desejei desesperadamente ser maior de vinte e um anos para poder entrar e me sentar num daqueles lugares, mas não precisei ser maior de idade ou entrar e ocupar uma mesa para avistar o sorriso mais lindo do mundo.
Eu sou daquelas que fica abobada com qualquer um que tenha uma beleza fora do comum, mas desde aquele dia, eu ainda venho procurando por um sorriso igual àquele.
Eu posso descrever o lugar e ele, mas não poderia descrever, nem com todo o esforço que houvesse dentro de mim,as pessoas que estavam em volta, não consegui reparar em mais nada.
Um bar com fachada de madeira e detalhes em verde escuro, aberto, sem portas - agradeço a ausência de portas, só assim não haveria nada para bloquear minha visão - e eu cheguei à conclusão que era bom, pois haviam muitos clientes por lá.
E ele... Cabelos bagunçados, meio escondidos por um chapéu, wayfarer preto, camisa branca e tatuagem em um dos braços. E ele sorriu, me fazendo sorrir junto com ele.
Pena que essa visão deve ter durado uns dez segundos, no máximo. Como eu disse, estávamos caminhando.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Oh, meu Brasil

A aula de geografia de hoje me fez refletir sobre uma coisa que vem me perturbando há séculos: o valor que atribuímos à nossa pátria.
O brasileiro já nasce com a síndrome de inferioridade, é só perguntar a qualquer jovem em que país gostaria de ter nascido e vai ver que o nosso não será uma das opções. Não vou ser hipócrita a ponto de afirmar que nossa nação não tem defeitos, porque ela tem, e não são poucos. Pobreza, fome, desemprego, analfabetismo, corrupção e violência é só o inicio.
Mas também temos uma das maiores economias do mundo, fomos um dos últimos países a entrar na crise mundial e um dos primeiros a sair dela, nossas riquezas naturais nem se comparam com as das chamadas "grandes potências", sem falar do carnaval e do futebol.
Brasil não é periferia, acabem com esse pensamento. Parem de pensar que ao sair daqui encontrarão o paraíso, não vão. Precisamos acabar com a ideia de que não temos condições de melhorar, tudo isso é questão de tempo e educação.
Precisamos deixar de ser um país governado pela mídia e passarmos a ter nossos próprios ideais de luta, sem hipocrisia e sem aquele patriotismo passageiro que só aparece em período de copa do mundo.

Meus agradecimentos a Marcelo Monte - meu professor de geografia - e ao meu pai, sem eles eu não teria escrito esse texto e seria apenas mais uma alienada nesse mundo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sophia IX

Dia após dia as coisas foram acontecendo, logo se passaram meses e a convivência já era rotina. Esteban já conhecia a família de Sophia e já se tornara amigo de Vicente, no inicio houve um pouco de relutância da parte do amigo, era estranho para ele ter que dividir a atenção de Sophia. Sentia-se substituído, ele que ouvia seus segredos e cedia um ombro amigo quando ela precisava, fora assim desde sempre. Haveria espaço para mais um?
Felizmente, uma das poucas vantagens que a passagem de tempo nos traz é a capacidade de adaptação. As feridas não se fecham, porém vão perdendo espaço para outros acontecimentos, e assim encontra-se remédio para quase tudo.
Os três não tinham nada de incomum, passavam os dias conversando sobre assuntos aleatórios e todas essas bobagens de adolescentes, curtiam o mesmo tipo de música, filmes e livros, a única coisa que os diferenciava visivelmente era a aparência, Esteban com suas mechas de cabelo desorganizadas, seus tênis imundos e seus jeans surrados, Sophia com toda sua delicadeza, cabelos ondulas, vestidos florais e sapatilhas sem salto e Vicente com seus cabelos bem cortados, olhos claros - escondidos atrás de grossas lentes -, blusas de botão e sapatos lustrosos.

Eram cerca de nove da noite, estavam num barzinho e tudo parecia bem normal. Os papos iam fluindo e eles bebiam pequenas doses, mas logo as alterações no humor iam ficando visíveis. Não era costume de Sophia e Vicente beber tanto quanto naquele dia, mas Esteban já estava mais do que acostumado. Logo Vicente ficou chapado e não cansava de repetir suas doses, Sophia lançou-lhe um olhar preocupado, ela nunca tinha o visto assim. Apertou forte a mão de Esteban buscando algum apoio.
- Chega cara, vamos pra casa. Por hoje basta. - E essas palavras saídas da boca de Esteban foram suficientes para despertar a fúria do outro.
- Ah, cala a boca. Acha que eu não aguento?
- Claro que não, olha o teu estado. - O clima foi esquentando, Sophia ficava cada vez mais preocupada.
- Você roubou de mim o que eu tinha de mais precioso. - Pronunciou essas palavras aos sussurros, mas foi o suficiente para que os outros dois ouvissem, ele estava aos prantos, logo as lágrimas também começaram a cair do olhos de Sophia.
Esteban ficou sem reação. Sophia com seus batimento acelerados. Vicente com lágrimas nos olhos e sem coragem para falar mais nada.
Bateu forte com o copo na mesa - a essa altura já estavam os três de pé - e saiu correndo sem ter certeza em que direção estava indo.

"..."

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sophia VIII

A partir daquele dia, as horas de Sophia passaram a ser iluminadas pelo sorriso do estranho - que a essa altura, já não era mais um estranho para ela - seu nome era Esteban. Havia se mudado a pouco tempo em busca de uma vida nova, acabara de se formar e estava usufruindo da sua liberdade recém-adquirida. Ele era como Sophia, com algumas doses a mais de coragem. Pensava em andar sem rumo, ao som dos Beatles e com um violão nas costas.
Eles combinavam, tinham filosofias de vida parecidas.
Andavam e conversavam pelas ruas, ele dizia que seus cabelos eram ruivos quando expostos ao sol, ela respondia que somente uma pessoa - Vicente - tinha dito aquilo antes.
Era estranho que ambos desejavam liberdade e a encontraram se prendendo um ao outro. Nenhum dos dois viveram tamanha felicidade anteriormente, enquanto tivessem um ao outro o mundo ao redor poderia ser bombardeado por extraterrestres espumando de raiva, mas eles estariam unidos.

"Sabe aqueles dias que nunca vão se apagar..."

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sophia VII



Depois do dia que ela tentou esquecer (e desistiu), suas visitas a biblioteca tornaram-se mais frequentes. Era comum ver aquelas mechas de cabelos castanhos e aqueles olhos amendoados escondidos atrás de uma capa qualquer.
Ainda havia um fio de esperança que fazia Sophia retornar sempre aquele lugar. Era como uma terapia, mergulhar nos livros e esquecer a realidade, sempre fora assim para ela.
Escolheu um livro de fotografias aleatório, estava com a mente cansada. Naquele momento aquelas imagens pareciam mais adequadas do que letras pequenas inseridas em textos enormes. Sentou-se no chão daquele corredor deserto, era possível contar nos dedos o numero de pessoas que se encontravam na biblioteca inteira.
Sophia era absorvida por cada fotografia, estava perdida em meio a pensamentos. Nem chegou a notar quando alguém se aproximou com passos lentos e silenciosos, mas ergueu o olhar quando esse mesmo alguém sentou-se ao seu lado.
Ela reconheceu imediatamente aquele rosto, era o estranho. Seu estranho. Desejou imensamente quebrar aquele silencio com um "Por onde esteve esse tempo todo?", mas ele segurou sua mão e ela não precisou pensar muito para entender que, naquele momento, palavras não eram bem-vindas.

"E quando eu ver você, queria uma chance pra ficar"

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sophia VI


Os dias passaram e sua rotina continuava a mesma, segundas-feiras preguiçosas, quartas cada vez mais iguais, sem contar os domingos cheios de tédio e pitadas de melancolia.
Quem sempre a salvava era seu melhor amigo, Vicente. Ele não era o mais bonito da cidade, mas era, de longe, o mais divertido. Tinha o dom de transformar qualquer dia de tempestade num sábado de primavera. E ainda usava um perfume cítrico inconfundível.
Os dois se conheceram aos cinco anos no jardim de infância, enquanto faziam pinturas a dedo e a professora os puniu por terem carimbado as paredes da sala de aula com as palmas das mãos.
Era sexta, dia de ver filme - eles mantinham uma tradição desde a oitava serie e sempre assistiam a filmes nas sextas-feiras. Sophia tirou o avental ridículamente cor de rosa, que infelizmente era o uniforme da sorveteria em que trabalhava e partiu para casa de Vicente.
Era estranho caminhar pelas ruas quase desertas e enxergar em cada quarteirão algo que a fizesse lembrar do estranho de sorriso tímido e olhos de ressaca. Tentava se iludir repetindo mentalmente que o esqueceria quando menos esperasse.
A casa do amigo não era tão longe, chegou em cerca de dez minutos de caminhada, guiada pela luz das estrelas que às sete horas da noite já brilhavam intensamente. Escolheram um besteirol americano aleatório, o qual já sabiam quase todas as falas.
Com exceção das risadas que o amigo conseguira arrancar dela, fora apenas mais um dia sem muita graça.
Incrível como eles combinavam, não era raro alguém perguntar se estavam namorando. Mas o que os unia era um sentimento de irmandade - pelo menos para ela.
"Mas se eu fosse você, daria uma chance pra tentar..."

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sophia V

Tudo o que ela conseguiu falar foi um "obrigada" e não tinha certeza se ele teria ouvido de tão baixo que a palavra soou. Ergueram-se do chão.
- Não acha Romeu e Julieta meio tedioso? - Ele falou isso enquanto lhe entregava um exemplar do livro surrado pelo tempo. Interrogações surgiram na cabeça dela. Shakespeare? Já lera milhões de versões dos mesmos dramas, ela não achava grande coisa, e ate concordava um pouco com esse ponto de vista, mas sempre fora apaixonada por romances.
- Acho, mas gosto de analisar como se vivesse na época em que foi escrito, fica bem mais interessante. - Ele sorriu e o coração dela quase parou.
- Hm. Vou tentar fazer isso da próxima. - Sophia tinha que ir embora, mas essa não era sua vontade. Não mesmo.
- Ajuda muito se interpretar o eu lírico de todos os personagem. Julieta, inexperiente e nunca havia amado antes. Sempre teve as verdades impostas pela família e os horizontes fechados por uma sociedade conservadora. - Calou a boca, temeu ter falado demais sobre assuntos que ninguém mais se interessaria no mundo, alem dela mesma.
- Romeu, que teve seu coração roubado desde o primeiro instante e foi tomado pela insegurança. - Completou docemente o estranho.
- Sempre achei Romeu muito seguro e disposto a lutar pelo que queria.
- Vejo que não e só nos livros que damas e rapazes interpretam o amor de formas diferentes. - Minutos se passaram e eles ainda em pé, próximos a saída da biblioteca.
Sophia olhou o relógio e desejou que aqueles ponteiros que movimentavam-se freneticamente parassem naquele instante. Em vão.
- Desculpe, tenho que ir! - E saiu tomada pela pressa, nenhum adeus, sem ao menos um sorriso de despedida. Sabia que sua mãe metralharia perguntas sobre ela assim que chegasse em casa. Mas ela não ligava, sua angustia derivava da incerteza de um segundo encontro com ele. Estava nas mãos do acaso.
"Droga!" Sussurrou enquanto percorria o mesmo caminho de sempre ate em casa. Mas ela estava sorrindo, sem notar. Sorrindo por dentro. Seu coração dava gargalhadas só de lembrar dos dedos finos que tocaram os seus enquanto devolviam-lhe seus livros.
Em casa, sua rotina foi uma copia dos dias de sempre. Não escapou das perguntas da mãe, respondeu todas com sinceridade (omitiu apenas um fato). Vestiu o pijama e foi se deitar. Lembrou do estranho que rondava sua mente durante as ultimas horas. Lembrou também que não sabia nem seu nome. Como poderia encontra-lo novamente?
"Droga!" Falou pela ultima vez aquele dia.
Adormeceu fitando as estrelas pela janela ampla de seu quarto, foi dando nomes a cada uma delas. Talvez um desses nomes pertencesse a ele.



" Ainda não sabe me dizer direito
Se me deixa ou me põe no peito, eu sei
Tem medo de se arrepender"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Fuerza bruta

Quero morar num bairro boémio de Nova Iorque
Ser atriz e trabalhar na Broadway
Não ter hora para chegar em casa
E me embebedar de arte nobre

Quero viajar o mundo inteiro
Não preciso de parceiro
Só você para me apoiar

Quero um porto seguro ambulante
Viver num ritmo inconstante
E algum dinheiro decente
Pras minhas futilidades de gente

Deixe-me ser consumida pelo egoísmo
Não me venha falar de narcisismo
E eu tentarei não ser indiferente

domingo, 5 de setembro de 2010

Sophia IV

Ela não precisou de flores no vestido para que algo bom acontecesse em sua vida.
Dentro da biblioteca não houve nada mais do que troca de olhares, mas ela estava feliz só por saber que alguém como ele existia. Ela não o conhecia, talvez esse fosse o mistério que o tornava interessante. Mas o que fazia alguém como ele naquele fim de mundo? O que o teria levado até lá? Torcia para que tivesse sido o destino. E torcia mais ainda para que ele permanecesse por perto.
As horas passaram rápido demais, olhou no relógio e viu que já era tarde.
Sophia arrumou suas coisas o mais rápido que pôde, foi jogando tudo que havia em cima da mesa dentro de sua bolsa de tricô (sua avó materna costumava tricotar quando era viva, havia falecido há cerca de dois anos e aquela era uma boa lembrança que Sophia costumava carregar para todo lado). Se dirigiu rapidamente até a saída, virou para dar uma ultima olhada no rapaz que havia despertado tanto o seu interesse, acabou tropeçando e derrubou os livros que carregava. "Droga!", sussurrou.
As poucas pessoas que ainda se encontravam no lugar olharam, alguém veio ajuda-la. Olhou os dedos finos que empilhavam seus livros, notou um anel fino no polegar e temeu olhar nos olhos do estranho. Sabia que eram mãos masculinas. Mas seriam essas as mãos dele?
- Você tem bom gosto. - Era ele, bastou ouvir a voz para que sua certeza viesse. Havia falado uma frase e conseguira fazer Sophia gelar. Ela sorriu desconcertada, não conseguia pensar em algo bom para responder e algo em sua cabeça martelava dizendo: "Ele falou com você, não seja tão patética!"

"Quando você me ver, já sabe o que falar
Não tenha medo de dizer alguma coisa pra fazer a minha vida mudar"

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sophia III

Haviam lugares os quais ela adorava frequentar, sua cidade era minúscula, mas no fundo ela nem ligava tanto assim, sentia falta de alguns bons concertos de folk e indie rock e enjoava de ver sempre os mesmos rostos na rua, mas esse não era o problema principal.

Era bem certo que ela queria achar seu lugar no mundo, e que ela tinha certeza que não era aquele.

Sophia estava na biblioteca, que na lista de lugares preferidos, só perdia para o seu quarto. Folheava livros cada vez mais interessantes e envolventes. Haveria coisa melhor que o cheiro de livros novos e o silencio interrompido de vez em quando por barulhos aleatórias de portas abrindo e fechando, folhas passando e tics de caneta?

Uma dessas batidas de porta chamou sua atenção, não pelo barulho ou pela força investida na maçaneta, e sim por quem entrou naquele lugar. Ela nunca tinha o visto antes, teria se lembrado daqueles fios de cabelos castanhos levemente assanhados. Prestou atenção o suficiente para notar seus olhos claros de ressaca, como os de quem troca suas noites de sono por um bom filme francês. Ela não sabia como deduziu isso, só deixou a imaginação fluir demais ou enxergou nele um espelho de sua alma.

Ele foi direto para a sessão de literatura antiga, coincidência ou não, a preferida de Sophia.



"Quando eu vi você, não soube o que falar
Por medo de ouvir uma resposta que iria me fazer ficar"

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sophia II



Simplicidade era seu apelido. Gostava de usar vestidos floridos em dias que acordava de bom humor. Mas não era otimista, o esquema não funcionava como se os vestidos floridos atraíssem os sorrisos no rosto, e sim os sorrisos no rosto atraíam as flores nos vestidos.
Acreditava que se não criasse expectativas, as coisas boas viriam de surpresa. E como ela amava essas surpresas...
Talvez fosse esse o motivo da descrença recém-adquirida que ela tinha no amor, mas no fundo sabia que existia uma pontinha de esperança. Então de que adiantava? Ela praticamente já tinha comprado o cavalo branco pra ver se o príncipe chegava mais rápido, mas negava qualquer coisa que se assemelhasse a isso (só para não parecer desespero).

"E quando eu ver você, queria uma chance pra ficar"

Sophia I

Só alguém com um desejo incontrolável de liberdade que a atormentava por dentro. Mas faltava a parte mais difícil: deixar tudo para trás.
Por mais que sua antiga vida não fosse lá essas coisas, começar uma vida nova não é tão fácil assim. Faltava coragem. Tinha medo de perder tudo o que construiu, pena que não ser mais uma questão de opção.
Ao mesmo tempo que desejava voltar atrás, não conseguia mais suportar a melancolia, que a tempos tinha passado a ser sua companheira.
Carregava consigo uma maldita vontade de explodir, gritar pro mundo o que se passava por sua mente. Mas não podia. Os escrúpulos eram mais fortes. E a essa altura o medo ainda a atormentava.
Queria correr livre, com os pés no chão, alcançar a linha do horizonte. Não seria de todo mal, seria? Afinal de contas, quem estaria no meio da estrada para impedi-la?


"Quero ver como tudo é la fora
Mas você ainda não me deixa entrar
Por medo de também querer"

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Velharia

Logo eu, a rainha dos defeitos. Como pude gostar de um perfeccionista? Os opostos não se atraem, o oposto me atrai. E é isso, só isso. Queria poder olhar pro lado e te enxergar, queria poder sorrir e ver você retribuindo o meu sorriso, mas simplesmente não é isso que acontece, não é isso que vai acontecer e eu estou meio cansada de esperar o destino agir e muito sem coragem pra desafia-lo. Desisti (outra vez).

Texto de 2009