Tudo o que ela conseguiu falar foi um "obrigada" e não tinha certeza se ele teria ouvido de tão baixo que a palavra soou. Ergueram-se do chão.
- Não acha Romeu e Julieta meio tedioso? - Ele falou isso enquanto lhe entregava um exemplar do livro surrado pelo tempo. Interrogações surgiram na cabeça dela. Shakespeare? Já lera milhões de versões dos mesmos dramas, ela não achava grande coisa, e ate concordava um pouco com esse ponto de vista, mas sempre fora apaixonada por romances.
- Acho, mas gosto de analisar como se vivesse na época em que foi escrito, fica bem mais interessante. - Ele sorriu e o coração dela quase parou.
- Hm. Vou tentar fazer isso da próxima. - Sophia tinha que ir embora, mas essa não era sua vontade. Não mesmo.
- Ajuda muito se interpretar o eu lírico de todos os personagem. Julieta, inexperiente e nunca havia amado antes. Sempre teve as verdades impostas pela família e os horizontes fechados por uma sociedade conservadora. - Calou a boca, temeu ter falado demais sobre assuntos que ninguém mais se interessaria no mundo, alem dela mesma.
- Romeu, que teve seu coração roubado desde o primeiro instante e foi tomado pela insegurança. - Completou docemente o estranho.
- Sempre achei Romeu muito seguro e disposto a lutar pelo que queria.
- Vejo que não e só nos livros que damas e rapazes interpretam o amor de formas diferentes. - Minutos se passaram e eles ainda em pé, próximos a saída da biblioteca.
Sophia olhou o relógio e desejou que aqueles ponteiros que movimentavam-se freneticamente parassem naquele instante.
Em vão.- Desculpe, tenho que ir! - E saiu tomada pela pressa, nenhum adeus, sem ao menos um sorriso de despedida. Sabia que sua mãe metralharia perguntas sobre ela assim que chegasse em casa. Mas ela não ligava, sua angustia derivava da incerteza de um segundo encontro com
ele. Estava nas mãos do acaso.
"Droga!" Sussurrou enquanto percorria o mesmo caminho de sempre ate em casa. Mas ela estava sorrindo, sem notar. Sorrindo por dentro. Seu coração dava gargalhadas só de lembrar dos dedos finos que tocaram os seus enquanto devolviam-lhe seus livros.
Em casa, sua rotina foi uma copia dos dias de sempre. Não escapou das perguntas da mãe, respondeu todas com sinceridade (omitiu apenas um fato). Vestiu o pijama e foi se deitar. Lembrou do estranho que rondava sua mente durante as ultimas horas. Lembrou também que não sabia nem seu nome. Como poderia encontra-lo novamente?
"Droga!" Falou pela ultima vez aquele dia.
Adormeceu fitando as estrelas pela janela ampla de seu quarto, foi dando nomes a cada uma delas. Talvez um desses nomes pertencesse a
ele. " Ainda não sabe me dizer direito Se me deixa ou me põe no peito, eu sei Tem medo de se arrepender"