quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

As Duas Palavras Com A

- Talvez você tenha razão.

- Sobre o quê?

- Sobre eu nunca ter amado ninguém.

- Tenho razão, mas não tenho a sua sorte.

- Sorte – ela suspirou indignada – Sorte por não amar?

- Sim, sorte. Não sabe o quanto é ruim.

- Ruim mesmo é não sentir.

- Ruim mesmo é ser o que sente e não é correspondido.

- Como sabe que não é correspondido?

- É tão óbvio, só você não vê.

- Eu não sinto, eu não vejo. O que quer dizer?

- Quero dizer o que você já devia saber desde o dia em que nos conhecemos.

- Nós tínhamos doze anos.

- Quatro anos se passaram. Ou você é cega ou gosta de me fazer sofrer.

- Não gosto de te ver sofrer. Eu só não entendo.

- Eu te amo.

- Eu também – Ela disse meio sem graça, mais para ela do que para ele.

- Não como eu gostaria.

- Beije-me.

- O quê?

- Beije-me e faça-me sentir.

Ele hesitou até não poder mais conter seus anseios, afinal ele esperou quatro anos por isso. Pousou uma mão na face macia dela, a outra serviu para puxá-la mais para perto, até que seus lábios se encontraram e dançaram. Como uma valsa, numa sintonia perfeita, como se uma orquestra estivesse dentro de cada um daqueles corações que batiam em uníssono.

Ela se afastou por medo ou dúvida, talvez.

- O que foi? – Ele perguntou estagnado e paralisado pelo medo.

- Eu não sei – Ela disse mergulhada em pensamentos com os olhos totalmente fora de foco. Levou suas mãos aos lábios e pôde sentir algo diferente. Tomou fôlego e deixou escapar um suspiro – Acho que minha sorte se foi.